quinta-feira, outubro 20

O homem da camisa roxa.




Boné velho, shorts surrado, chinelo gasto. Assim caminhava o homem da camisa roxa.
Era um domingo de sol. Aquele dia em que as pessoas almoçam com os familiares, preparam os melhores pratos. Matam o tempo, a saudade, jogam conversa fora, se aproximam.
Dois jovens conversavam na calçada. Apontou na esquina o homem, o homem da camisa roxa. Talvez por estarem expostos na rua, o homem se sentiu intimidado em abordá-los. Talvez fossem jovens demais para ajudá-lo. Talvez tivesse pensado que assim como os outros, eles também não se importariam. Mas se importaram.
E o homem subiu, e bateu de portão em portão, sob o sol escaldante, pedindo... Não se sabe o que ele estava pedindo. Mas por suas aparentes condições era fácil presumir. Comida? Dinheiro?
Sabe?  as pessoas não gostam que outras lhe batam à porta. E gostam ainda menos, no domingo à tarde.
Alguns até chegaram a atendê-lo. Mas o fato é que o homem passava sempre de um portão para o outro, de mãos vazias.
As pessoas não costumam ser muito caridosas no domingo à tarde... E não se pode culpá-las. Talvez até tivessem a intenção de ajudá-lo. Talvez não pudessem... Talvez não tivessem como ajudar. E talvez, realmente não estivessem mesmo se importando.
Não se pode julgá-las, afinal, era mais um pobre, preto, quem sabe bêbado ou drogado, desses que às vezes batem em nossa porta. Mas no domingo à tarde? Francamente...
Continuou sua insistente jornada de portão em portão. Não se faz idéia do que ele estava pedindo. Só se pode deduzir. Mas aquelas pessoas sabiam, e ele, o homem da camisa roxa, também sabia qual era o seu desejo, quem sabe sua necessidade...
Ele passava, as pessoas se esqueciam e ninguém se importou. Eles sim! Os jovens. Eles se importaram. Importaram-se, também não fizeram nada.
Atravessou a rua, dobrou a esquina, e lá se foi. O homem da camisa roxa.

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